quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Devaneios de uma analista.


Por todos os dias da minha vida, indaguei-me do que sou feita - não concretamente. Aludo à minha essência. "O que sou?"; "o que preciso alcançar?"; "como ser feliz?"; "o que é a humanidade e por que ela se contradiz tanto?"; "o que é, de fato, o certo?" (...) E por todos estes dias fiz-me aprendiz, simplesmente porque o aprendizado nos deixa menos suscetíveis ao erro. Por "aprendizado" não me refiro à ciência propriamente dita, ou ao racionalismo exacerbado. Refiro-me a simples análise psicológica humana.
Por conseguinte, tornei-me analista. Deparei-me logo com as mazelas humanas. Fiz-me idealista e, junto a uma característica nata, o perfeccionismo -há quem a estime, e também há quem a deprecie -e também, confesso, a outros fatores externos, principalmente o contato com uma certa sociedade, explicito, nem um pouco sutil - que trouxe-me experiências questionáveis; e com memórias póstumas de certos críticos de séculos passados postas no papel, passei a, ouso dizer, quanto à humanidade, definí-la por uma só palavra: hipócrita.
Sempre fiz questão de ressaltar a minha crença na humanidade, em sumo: na bondade, na amabilidade e na compaixão "inerentes" a esta. Mas em um momento, ví-me obrigada a descrer em tudo isso. Confesso não haver influências pessoais, desta vez. Mas externas, sim. Cada vez mais notícias de homicídios, terror, despostismo -em seus vários tipos, dentre muitos outros, expunham uma sociedade cruel e impiedosa que, ativamente, corrompia e esvanecia, pouco a pouco, a minha "sociedade" idealizada.
Quais as saídas, senão iludir-me e negar uma parte do mundo que existe? "Acreditar", somente, já não era mais uma opção. E quanto ao "acreditar no agir"? Levando em conta que acreditar nisso seria acreditar num ser-humano trapalhão, cabeça-dura, mas dotado de uma grandiosa curiosidade, uma excepcional criatividade e uma singular capacidade para reagir ao enxergar algo de errado, nisso resolví acreditar, simplesmente porque talvez o ser-humano seja a maior contradição da vida e também porque assim não me proclamaria "hipócrita". Afinal, há maior hipocrisia do que negar a própria hipocrisia?

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