
Lembro-me das caminhadas bambas: a firmeza era escassa e o equilíbro diminuto, enquanto a minha visão encontrava-se desperta apenas para observar os movimentos contínuos dos meus pés descalços e as minhas forças se concentravam unicamente em tentar repelir o temor do que havia ao redor, que me consumia pouco a pouco, e cada vez mais. Se via um degrau, já não tinha energias para erguer-me nele. Preferia fingir que não o vi, assim teria motivos para não me enfrentar. Por outro lado, temia que me descobrisse no ato falho, e que me punisse pela covardia de não fazê-lo. Decidi, então, repartir-me em várias, com o objetivo de atenuar o efeito da auto-punição. A partir dela, aconteceu o inesperado. A minha caminhada já não era tão bamba assim. Pretendi erguer a minha visão, a instigar-me a desejar experimentar ver o novo. A ver além. A ambição crescia, e cada vez mais eu pensava estar alcançando novos mundos. Numa destas caminhadas, por não estar atenta aos meus pés, e sim ao horizonte, não percebi o degrau que estava ali novamente. Distraída pela miragem, tropecei e caí.-Queda amarga, dura e impiedosa.- Veio então o arrependimento, a vontade de esvanecer-me. A mudança brusca fizera de mim um ser desonrado e suscetível, até que um dia, percebi a existência de fulcros diante de mim. Com dificuldade, arrastei-me de encontro a eles, e em alguns deles encontrei o apoio que precisei.
Reergui-me, e desta vez, decidi deixar meu caminho me trilhar por onde eu deveria ir, ou estar. "O que tiver de ser será". Passaram-se os anos, e percebi que os tremores nunca deixaram de vir, assim como as quedas. Mas em todos eles, existiram sempre amparos, para a reerguida e o caráter, para a coragem de seguir em frente.
Às vezes podemos estar sem-forças e podemos preferir continuar ao chão, mas a ascenção revelará a persistência, a força e a coragem. Estas, nunca poderão ser vencidas. E se fortalecerão à medida de cada queda, e de cada reerguida. Você nunca estará sozinho. Autoria: Hiloma Rayssa
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